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terça-feira, 18 de maio de 2010

Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades

E o que mais ela poderia fazer?
Não era o caso de desistir, mas de ter maturidade o suficiente para se conformar, fechar os olhos e seguir em frente.

Por ser tão ligada à liberdade, não queria prender ninguém a ela.
E sabia que felicidade não se alcança por obrigação, ao mesmo tempo que seria incapaz de ser feliz na proporção que se achava merecedora.

Não havia mais muito a ser feito.
Colocou seu casaco, abriu seu guarda-chuva e se despediu com o olhar... entrou em um táxi e por mais que tivesse vontade de pedir ao motorista que dirigisse até a fronteira do estado, pediu que a levasse até sua casa.

Entrou, falou qualquer palavra doce para o gato que estava sobre o sofá.
Tirou o casaco molhado e o sapato de salto.
Sentou-se perto do gato, apoiou algumas almofadas de maneira confortável e ligou a televisão com o controle que estava próximo.
Olhava fixamente para a televisão enquanto o âncora falava sobre mais um atentado terrorista ou qualquer coisa do tipo. Veio a previsão do tempo, a chuva continuaria por mais dois ou três dias. Notícias sobre o dólar. Uma notícia sobre o reencontro de um bebê perdido. "Boa Noite".
Apertou o botão azul e automaticamente a tv foi para modo rádio.

O som era familiar, uma música da Marisa Monte que em certo trecho se intercalava com um trecho de Eça de Queiróz: 

"... tinha suspirado,
e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante,
onde cada hora tinha o seu encanto diferente,
cada passo condizia a um êxtase,
e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!"

Olhou para o lado e deu aquele sorriso singelo, no canto esquerdo da boca, daqueles que só é capaz de existir quando ela encontra certa graça na desgraça.
Depois disso, o que mais poderia fazer além de viver e procurar pela felicidade em outros portos, em outros olhos e braços?
Adormeceu com uma serenidade...


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